sábado, 19 de março de 2011

Obsessão



   A sala era escura, iluminada apenas pela leveza da lua cheia que se esforçava para entrar pela fresta da pesada cortina que cobria aquela grande janela. Duas taças na mesa de centro deixavam explícito que a noite tivera sido um tanto quanto divertida.
   Infelizmente algumas pessoas não têm limites, são obsessivas. Ela disse: “chega! Pare, por favor!”, mas ele a ama muito, tanto o suficiente para não deixá-la sair de perto, nunca.
   Aquela havia sido de longe a mais prazerosa de todas as noites. Lucas havia pensado durante um mês em como faria o pedido de casamento à Fernanda. Decidiu que seria nesta noite, já que faria exatamente dois anos e meio que namoravam.
   Ela se sentia estranha ultimamente, mas neste dia acordou suada de um sono perturbado, repleto de pesadelos. Pela manhã, estava mais enjoada que de costume e resolveu fazer um teste de gravidez: “nem que seja um desses de farmácia”, lhe dizia sua amiga, Bruna.
   Resolveu que Lucas receberia a notícia positiva naquela noite. Ela já tinha um bom emprego como dentista, tinha um relacionamento fixo e era psicologicamente capaz de criar uma criança, era isso que tentava dizer para si mesma, mas não se sentia feliz, no máximo satisfeita, pois ao menos não estava doente.
   Ela preocupava-se apenas com uma coisa: como diria isso para Raphael. Sentia-se molhadinha toda vez que entrava em seu apartamento, pois sabia que talvez ele viesse. Dormia todas as noites com a janela aberta para facilitar a entrada de seu cavaleiro das trevas, era assim que o chamava depois das loucas transas que tinham. Esse sim era seu homem, era quem a satisfazia plenamente, a agradava de todas as maneiras. O único que a fazia realmente se sentir desejada. Por ser uma mulher extremamente sensual, de longos cabelos ruivos e levemente ondulados, dona de grandes olhos azuis e seios fartos, era atração da maioria dos homens da cidade, mas não queria isso, para ela bastava a atenção de Raphael e seu olhar misterioso a observando em seus delirantes movimentos de vai-e-vem sobre seu membro latejante.
   Temia que se contasse a ele que seria mãe, ele nunca mais voltasse para deleitar-se de seu corpo sarado,
   Lucas acordara animado, pediria sua amada em casamento, Sabia que ela o amava e aceitaria o pedido. Apesar de que às vezes o esnobava e até o humilhava em frente aos amigos, ela o amava, pelo menos era o que ele pensava, pois não sabia o quanto eram úmidas as madrugadas de sua bela Fernanda.
   Passou o dia inteiro organizando a noite “H”. Faltara ao trabalho para escolher pessoalmente o vinho que servira, ele mesmo fez o jantar, preparou um belíssimo discurso e cuidara da aparência. Não havia muito com que se preocupar nessa última questão, era maravilhoso: cabelos louros, ligeiramente dourados, pele clara e um corpo invejável e aqueles olhos meigos, cor de mel, encantavam todas com quem falasse.
   Bruna, que era a melhor amiga de Fernanda não entendia como ela era capaz de trair aquele homem com um ser obscuro e desconhecido, e admitia apenas para si mesma, nos sonhos úmidos que tinha com Lucas, que se a amiga desse mole e ele a quisesse, não pensaria duas vezes antes de se entregar por inteira a aquele homem.
   Raphael também tinha algo a dizer naquela noite: queria Fernanda para ser sua mulher legítima e a pediria em namoro, pensou até em ir mais cedo a casa dela, mas teve receio de que Lucas estivesse lá, então achou melhor esperar até as três da madrugada, o horário de costume que ela já conhecia bem.
   Às oito horas da noite, Lucas ligou para Fernanda, pediu para que ela se arrumasse para irem jantar e disse que a buscaria as nove e quinze em ponto. Quando foi buscá-la, fez mistério, queria que fosse uma surpresa. Ao se encontrarem, seus olhos brilharam. Não se sabia o porquê, mas ambos sentiram um arrepio no corpo inteiro quando se viram. Os dois experimentaram uma mistura de admiração com ansiedade, e talvez um pouco de medo, mas ninguém comentou nada a respeito.
   Beijaram-se apaixonadamente e entraram no carro. Lucas não parava de olhar para ela, não conseguia. Ela estava com um vestido longo, mas extremamente justo, deixando-se ver suas curvas quase que esculpidas.
   Lucas queria que o jantar em sua casa fosse surpresa, então fingiu que havia esquecido sua carteira em casa e que teriam de ir até lá buscá-la. Quando chegaram ao apartamento dele, Fernanda se viu maravilhada com a belíssima decoração que o namorado cuidadosamente preparou só para ela, mas por outro lado, sentiu-se entediada por imaginar exatamente o que fariam na noite, era sempre igual. Não, esta não seria.
    Lucas colocou uma seleção de músicas calmas para tocar e abriu uma garrafa de vinho, que os dois beberam com muita vontade, era um ótimo vinho. Conversaram bastante, mas nenhum teve coragem de chegar ao assunto principal: Lucas queria se casar, Fernanda era obrigada a ser mãe. Abriram mais uma garrafa que se foi mais rápido que a primeira, talvez procurassem coragem no fundo de cada taça, mas a cada gole que bebiam só conseguiam pensar em sexo. Lucas queria, precisava do corpo de Fernanda, e ela implorava pelo sêmem estéril e frio de seu vampiro, Raphael.
   Beberam um pouco mais e ele começou a beijá-la calorosamente enquanto passava os dedos pelas suas pernas cruzadas, forçando-a a descruzá-las. Ela sabia que teria de transar com ele, mas não queria, não com o Lucas.
   Os beijos se tornaram mais intensos e ele a deitou no sofá, deitando-se por cima dela e forçando-a a abrir as pernas. Ela estava visivelmente excitada e já se entregava ao corpo de seu homem, que abria a camisa, expondo seu abdômen sarado, que ela arranhava de leve, com prazer.
   Fernanda tirou o vestido e expor seu corpo à penumbra da sala, pedindo para que ele passasse a língua em todo o seu corpo. Ele se divertia, brincava com os mamilos, os mordendo e lambendo. Lambia sua barriga, descia até chegar perto da virilha e voltava, para desespero dela, que se excitava cada vez mais. Agora queria ser preenchida pelo membro dele, queria muito, gemia de prazer enquanto ele descia cada vez mais, agora lambendo sua intimidade, começando no clitóris e descendo... com leveza, quase uma simples carícia. Depois mais forte, com vontade e excitação.
   Enfiava a língua dentro dela e depois voltava, brincava com seu clitóris, sentia prazer em fazer isso até vê-la se derreter em sua boca, sentir a textura de sua lubrificação escorrendo pelos lábios e ouvi-la gemendo. Não parou até ela gozar e então a segurou com força e introduziu seu membro todo, com desejo, naquela mulher toda molhada. Gemeram de prazer.
   Ela o sentia metendo com muita força, o arranhava e mordia. Estava adorando e pedia mais. Lucas a vira de costas, a queria de quatro, puxava seu cabelo que insistentemente, caia sobre o rosto dela, que instintivamente, nos momentos das penetradas mais fortes, ela jogava para trás para que ele puxasse novamente.
   No momento de maior êxtase, ele viu algumas marcas no pescoço dela, pelas quais tinha certeza que não havia sido ele o responsável, mas já estava próximo do orgasmo, não podia parar, sentiu raiva e metia com muita força, tanto que começou a machucar a moça, que pedia “por favor” para que ele parasse, mas ele não iria parar. Metia cada vez mais forte, agora ela já estava gritando de dor, mas ele não a soltava, segurava-a pela cintura com a força de mil demônios.
   Quando enfim ele gozou, ela conseguiu soltar-se, mas imediatamente ele a jogou para fora do sofá. Estavam melados de sangue, sêmem, suor... uma mistura grotesca de fluídos. Ao lançá-la ao chão, viu uma faca na mesa de centro, instintivamente voltou-se aos berros:
   -Quem é ele, sua vadia?
   Gritava enquanto cravava dezenas de facadas no corpo dela. Sua vida escapava-lhe por entre os dedos, Lucas se deparou ao cadáver completamente ensanguentado de sua mulher amada, e aquele corpo delicioso que ele costumava exibir como uma relíquia, agora era um monstruoso monte de carne e sangue jogado no tapete da sala.
   Já eram quase três horas da manhã quando Raphael sentiu que algo estava errado com sua futura namorada e resolveu ir o quanto antes à sua casa. Ao chegar lá e não encontrá-la, sabia que realmente havia algum problema e seguiu seu cheiro até a casa de Lucas, onde encontrou aquela horrenda cena: o corpo da mulher esfaqueado ao chão e Lucas sentado em um sofá com uma taça de vinho na mão ensanguentada.
   As janelas não aguentaram a pressão que o vampiro fez e cederam, fazendo um barulho alto, que escondeu, por um segundo, a música calma que ainda tocava ao fundo. Lucas tentou correr, mas Raphael era rápido demais e com um golpe apenas, jogou-o no chão ao lado do cadáver de Fernanda e, em uma mordida, arrancou-lhe o último suspiro de vida. Sugava o seu sangue com vontade, ódio, vingança. Após tomar todo o sangue do corpo sem vida de Lucas, a criatura arrancou-lhe o coração do peito, rasgando-o com as afiadas unhas. Agora estava vingado.
   Raphael deixou o cadáver daquele rapaz jogado no chão da mesma sala em meio a uma poça de sangue, sem nenhuma gota de vida, e tomou para si o corpo de Fernanda, cuidadosa e ternamente. Levou-a ainda sem vida para uma torre muito alta que pertencia à catedral da cidade, que era mal iluminada e sem movimento algum, principalmente a essa hora da madrugada. Fazia daquele lugar sua morada, que agora dividiria com sua ruiva.
   Após cuidadosamente suturar os ferimentos dela, ele rasgou o próprio pulso com as unhas e levou-o a boca de sua amada e a assistiu beber com intensidade aquele sangue frio de suas veias até que o ar da vida voltasse a soprar em seus pulmões (ou quase).
   O filho que Fernanda carregava no ventre morreu com seu corpo, mas agora ela e seu cavaleiro formam uma dupla e tanto pelas madrugadas misteriosas daquela cidade.

*-AgNeS_BlAcK-*

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